quarta-feira, janeiro 11, 2012

Olivia de Havilland


Um dama no cinema hollywoodiano


A ser comentados aqui dois filmes grandiosos de sua filmografia:


A COVA DA SERPENTE

(20th Century Fox - Anatole Litvak, 1948)


É inegável como Olivia de Havilland, no que pode ser a sua mais requintada tour de force, representa o que há de sólido e atraente em THE SNAKE PIT. Sua maneira expressa o comportamento de uma mulher americana cuja aparência se encontra similar na rua, mesmo sendo linda e da melhor estirpe hollywoodiana. A provável identificação que o público teria com a protagonista frente a um mundo de loucuras me parece tão plausível que não teria como esta produção engenhosa da Fox evitar uma ação de censura. Uma mulher que ama, gosta de música e escreve romance, como qualquer outra, não compreende a sua repentina situação de insanidade, internada num sanatório. Anatole Litvak dirige com propriedade esta belíssima história, marcada por observações psicanalíticas interessantes, e um toque de horror, denunciando incisivamente como a sociedade vê os indivíduos que sofrem de doença mental. Freud é utilizado como argumento-chave neste filme encantador. Posso pontuar que uma conclusão a partir de explicações tão definidas da psicanálise emana de alguma forma a sensação de que o roteiro simplifica a complexidade da protagonista. Penso nesse artifício como uma forma de tornar a insanidade mais imaginável ao espectador da época que já sofreria o grande impacto imagético das personagens internadas no sanatório. Conferir esta pérola cinematográfica da loucura é essencial e para compreender – no mínimo – o que faz até o título dessa obra possuir tanto significado.


TARDE DEMAIS

(Paramount - William Wyler, 1949)


A contundente direção de William Wyler engole o espectador de tal maneira à história que vejo ser inevitável evidenciar o poder não apenas do talento inato para a direção dos atores, mas em todo o cenário que percebemos de uma forma singular. Olivia de Havilland, contemplada aqui com o seu segundo Oscar de Melhor Atriz, mostra o show imprevisível que é capaz de sustentar por trás da sofrida personagem de Henry James, em "Washington Square". Seu nome é Catherine Sloper, uma jovem ingênua e tímida que se apaixona pelo personagem galã de Montgomery Clift. Dentre os personagens de maior relevância, encontramos também a idílica Miriam Hopkins como a tia faladeira e romântica cujo fascínio pelo melodrama é mostrado constantemente na sua influente vontade de ver o amor se consumir pelo casal protagonista. Só que o elemento que dá as cartas, nessa história de sofrimento e muitas lacunas sobre as emoções de seus personagens, é o talentoso Ralph Richardson como o doutor Austin Sloper, o pai de Catherine. Este viúvo, marcado por uma nostalgia da mulher que ainda idolatra e compara com a filha, mostra-se um personagem tão complexo afetivamente quanto o casal protagonista. Quando o pai acusa o personagem de Clift de estar interessado apenas no dinheiro de sua filha, a história toma um novo rumo, desvelando as nuances de seus personagens para apontar que o homem não possui emoção passível de ser simplificada. O suspense criado em torno das verdadeiras intenções do casamento é magnífico. Não é possível conhecer de forma absoluta os sentimentos humanos, que dirá representa-los imageticamente. Então, Wyler constrói um panorama incisivo em cima desta premissa, dando enfoque à miséria existencial pela qual a protagonista se vê acometida.




Esta querida ainda vive e possui hoje 95 anos.
Devemos celebrar o triunfo desta mulher singular,
que já ficou para a eternidade.