Um filme Noir, no seu significado mais genuíno, funciona bem quando nos evoca sua obscura e, em muito dos casos, complexa forma de narrar.
A começar pela fotografia em preto e branco, composta por famosos artifícios do expressionismo alemão. O uso manipulador de sombras, a combinação intercalada entre planos de baixa e alta luminosidade com singulares formas de revelar passagem do tempo, desde o flashback até a mais sofisticada analogia de imagens. Estes filmes que até hoje fazem de sua estética algo mais que fascinante são dotados de uma questão mitológica acerca da construção de um espelho negro da sociedade americana, questionando o otimismo do
American Way of Life.
Não se basta de questões estéticas, esta aclamada estirpe cinematográfica costuma apresentar fortes construções ideológicas, nas quais as principais discussões estão acerca da moral tida eventualmente como ambígua, assim como o perfil de seus personagens arquétipos, trazendo em muitos momentos ao espectador a impressão de uma narrativa confusa. Quando, na verdade, a maioria destes argumentos fílmicos caóticos propositalmente implica o efeito da dúvida na construção de resoluções para suas narrativas.
No caso de FUGA DO PASSADO, reconhecido por muitos como o filme Noir legítimo e "quintessencial", os pressupostos deste gênero estão mais profissionalmente estabelecidos que nunca. Os protagonistas – Robert Mitchum, Jane Greer e Kirk Douglas – estão perfeitos em papéis que nas mãos de outros ameaçariam estar susceptíveis a interpretações mecânicas.
A cinematografia de Nicholas Musuraca se encontra brilhantemente com inesquecíveis diálogos sobre sexo, violência e traição.
Elementos que se articulam de modo tão fatal quanto o homem apaixonado pela Femme Fatale é corrompido pelo retorno do passado. Apaixonado por uma mulher dividida, sobretudo, entre o seu amor e a relação duvidosa com um rico e cruel chefão do crime.
Quintessencial. Uma obra-prima.
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