Em "Queen Bee" (1955), Joan
Crawford foi incumbida de ser a abelha-rainha como manda o figurino,
soltando os ferrões, sutis e mortais. Uma narrativa menos surpreendente do que
se esperaria, marcada excepcionalmente por agradar aos fãs da atriz com frases
de efeito sarcástico e elegante. O figurino magnífico de Jean Louis veste a
maliciosa personagem de Crawford (Eva Phillips), uma mulher solitária que
tortura os outros com os subsídios de suas frustrações. Este drama de temática
familiar foi dirigido por Ranald MacDougall, conhecido pelo roteiro de "Mildred
Pierce" (1945), e constrói personagens muito interessantes. A narrativa parte
da ideia comum da pessoa que visita determinada casa habitada por uma família cujas
dificuldades de convivência e conflitos afetivos não estão aparentes, podendo
desdobrá-los gradativamente conforme o visitante se envolve com cada um deles.
Fórmula que eu chamaria de "A Visita", utilizada algumas vezes pelo escritor
Tennessee Williams em textos como "Gata em Teto de Zinco Quente", "Um Bonde
Chamado Desejo", além de outras que reviram como nunca o passado, em "Sonata de
Outono" de Ingmar Bergman, ou a comédia britânica de humor negro "O Aniversário" com Bette Davis, de Roy Ward Baker.
"When I saw her movie called Queen Bee about a year later I hated it. I found the entire film horrifying. That wasn’t any acting job on Mother’s part. It was exactly the way I knew her at home when she’d been drinking and was at her very worst. That woman on the screen really was my mother".
(CRAWFORD, Christina. 1978, p. 185)
Por infortúnio, a
trágica e deliciosamente fotografada sessão de "Queen Bee", em que suas
atuações e entraves outrora prometeram uma ótima ironia social, termina por
rumos indesejáveis, inconvincentes e que funcionariam melhor em telenovelas.
Todavia, o filme não envelheceu tão mal e não parece também que irá se cansar de
exibir a talentosa figura de Eva. "Uma mulher tão sórdida que queremos vê-la
morta", e eu cito observação pertinente do amigo Lucas Leigh a um dos quais
esta análise é dedicada, além de que esta frase de efeito – também elucidada
noutras palavras pelo crítico Bosley Crowther em The New York Times – foi
caracterizada nas memórias de Christina Crawford como o resumo perfeito do
filme.
MEL
"Ó, abelha-rainha
Faz de mim um instrumento
De teu prazer, sim, e de tua glória
Pois se é noite de completa escuridão
Provo do favo de teu mel
Cavo a direta claridade do céu
E agarro o sol com a mão."
De teu prazer, sim, e de tua glória
Pois se é noite de completa escuridão
Provo do favo de teu mel
Cavo a direta claridade do céu
E agarro o sol com a mão."
Mel, interpretada por Maria Bethânia.
Referência Bibliográfica
CRAWFORD, Christina. Mommie Dearest. 1st Ed. NY: Berkley Books, 1978.
Wow! Adorei a crítica para o filme. Ainda mais as citações do livro escrito pela filha de Crawford. Só em saber que Joan estava interpretando a si mesma, torna tudo mais sublime. Se eu já me senti desconfortável com a Queen Bee, imagina a filha...
ResponderExcluir"Joan Crawford como Eva está uma vilã adorável que desfila com suas maneiras ofensivas e elegantes, procurando o defeito em todos para poder destroça-los sem cerimônias, só que em alto estilo de superficialidade e educação."
Acho que esse é o pior tipo de vilã e ela faz isso como ninguém. A primeira vez que assisti esse filme foi inevitável querer que ela morresse, mas com o tempo acabei gostando dela hahaha.