quarta-feira, abril 04, 2012

Especial Joan Crawford


TCM APRESENTA
Dirigido por Peter Fitzgerald. 2002.
Narração por Anjelica Huston.

Existe outra Joan Crawford que deveríamos lembrar. Sábias primeiras palavras que introduzem e enaltecem a imagem da atriz, representada neste documento de Peter Fitzgerald como a estrela definitiva do Cinema. Construída como ícone de feminismo e revolução no início da carreira, tão famosa pela beleza sublime quanto pela infame relação com a filha Christina Crawford, a nascida pobre com promessas de dançarina Lucille Fay LeSueur tornar-se-ia outra das evidentes e complexas figuras paradoxais hollywoodianas. Teria superado uma vida conturbada, abusiva e machista para encontrar ascensão social e sucesso instável, mas não se desassociando por completo da reprodução de práticas familiares afetivas e violentas que noutra época lhe perturbara. 


A perspicaz direção de Fitzgerald tende como argumento principal, por trás de inúmeras imagens e comentários bem organizados, a iluminar a face da figura de Crawford que eventualmente se encontra obscura e esquecida. Na MGM dos anos 20 e 30, quando Lucille LeSueur tornou-se Crawford, não se imaginava que apenas uma dançarina extra dos primeiros filmes do estúdio, onde a atriz encontrara-se realizada por mais de dez anos, contemplaria seu próprio nome com uma personalidade única. Joan Crawford era mais que uma estrela, apurava o seu comportamento e a sua imagem com tanta subjetividade que se transformou num personagem. 


Em memória de sua figura, não esqueceremos a elegância latente, os traços da boca e o rosto distintos. Atrelados a esta composição estética está muitas vezes também uma ideia trágica de mãe abusiva, alcoólatra e destruidora do próprio lar. Em contrapartida, pouco se recorda das condições sociais que intensamente desafiaram a jovem e inexperiente Crawford, mas que não a impediram de se legitimar como uma estrela, uma vez cercada por ostentação e práticas burguesas como o único ideal. A atriz se encontrou subjugada a aceitar papéis recusados de atrizes já consolidadas, estigmatizada por conta da vida boêmia lhe apetecer, recusada em eventos célebres como decorrências dos mesmos estigmas. Engajado pela vontade de trazer reconhecimento às conquistas da atriz, o genuíno desenvolvimento deste filme-documento com vários dos mais aficionados comentaristas, historiadores ou até mesmo atores como Charles Busch, Anita Page, Betsy Palmer, além da própria filha Christina Crawford e ex-maridos, funciona com uma abordagem equilibrada, não se derretendo em paixão, nem escandalizando o público com uma lista de acusações, como de praxe à fama de mamãezinha querida. 


Na medida certa, obtém-se informação necessária para constatar verdadeiramente que – conforme citarei o talentoso Busch – negar um lugar à Joan Crawford na história de Hollywood é como eliminar o centro de toda a estória. "Joan Crawford: The Ultimate Movie Star" é uma efetiva e grande realização em cine-biografia que não apenas desmistifica o enunciado "No more wire hangers" como também contempla os fãs da atriz com uma incursão deliciosa por imagens jamais vistas.


"Joan Crawford é indubitavelmente o melhor exemplo da mulher flapper. A garota que você vê em casas noturnas vestida no ápice da sofisticação. Manuseando copos e gelos com uma expressão ligeiramente amarga. Dançando deliciosamente. Rindo muito com olhos arregalados e feridos. Jovens coisas com talento para viver."

- F. Scott Fitzgerald

Um comentário:

  1. Oi, conheci seu blog e tenho uma especial admiração por Joan, gostaria do seu email ou facebook para mantermos contato. Att. Ivan

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