terça-feira, abril 24, 2012

Sobre as mulheres de George Cukor

"The Women" é uma comédia estadunidense de 1939, dirigida por George Cukor. O roteiro de Anita Loos e Jane Murfin adapta a peça teatral homônima de Claire Boothe Luce. Assim como a peça, o elenco do filme é formado todo por mulheres (ao todo, cerca de 130) e, inclusive, os muitos animais de estimação que aparecem são também todos fêmeas. Trata-se de uma história sobre amor entre homens e mulheres - na alegria e na tristeza.


Joan Crawford está divina, mas Norma Shearer quase rouba a cena como a esposa frustrada que não consegue aceitar a hipocrisia matrimonial, brilhantemente ironizada por Cukor, inserida e imposta no seu contexto social. Se pensarmos ideologicamente, as provocações entre as mulheres – recheadas de violência simbólica às futilidades da alta sociedade – compõem o que há de mais primoroso, enquanto a ironia de um retrato social, nesta obra quintessencial de Cukor. Reconhecido como o diretor das mulheres em Hollywood, Cukor extrai com um humor irretocável as interpretações do seu elenco totalmente feminino, mas por infelicidade com uma premissa nada feminista. Este filme é tão belo quanto fútil de se assistir. A forma como o roteiro estigmatiza a mulher de sua época incomodaria feministas até se fosse mudo. Cukor conta que a sequência em cores do filme lhe foi imposta e isso – pelo menos dá certo alívio de ler, possibilitando desvelar a ideia de que o diretor não compartilhava exatamente de toda visão de mundo construída em seu filme. Todavia, tinha-se a consciência da banalidade que espreitava as relações da alta sociedade hollywoodiana nos anos 30 e, em muitos momentos, era isso o que o público queria ver. Seja um show de moda no auge do Technicolor ou a divulgação do novo esmalte sensação, como o “Jungle Red”, passando pelo culto às celebridades que lhe serviam de inspiração.

Imagem emprestada da interessante matéria sobre a cor vermelha
do site ROCKPAPERINK. Para conferir, clique aqui.

Assistir ao filme “As Mulheres” assumindo um olhar de qualquer ideologia que preze pelo exercício da liberdade feminina é como pedir uma sessão lenta de autoflagelação. Entretanto, é possível ter uma sessão mais tolerante, caso o espectador se dispa de ideias atemporais e específicas, no que diz respeito ao retrato feminino do filme, cuja abrangência social específica pode ser particular a sua época. Mesmo que reflita e seja reatualizado pela contemporaneidade, o discurso do filme de Cukor merece ser contemplado com uma separação de valores, em prol também de evitar os preconceitos ante as ótimas atuações, vide a brilhante Rosalind Russell, além ainda da direção e a composição sonora, ambas exímias. Está bom, ou quer mais? Tem ainda o confronto final entre as personagens de Crawford e Shearer, um disfarçe para a competição que realmente havia entre as atrizes. Crawford era a flapper, cheia do fogo nas entranhas e excluída da turma sofisticada de Hollywood. Shearer era querida nestes meios, como também tinha contatos para os melhores papéis da MGM. Em “The Women”, talvez não há muitos limites entre ficção e realidade, o que muito caracteriza a sua forma de deliberar fascinação.


És fascinação, amor. - Elis Regina

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